CULPA E O CICLO INFERNAL: MEDO, BARGANHA E JUSTIÇA PRÓPRIA

16 fevereiro, 2009

"Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo"

(Apóstolo Paulo aos da igreja em Roma)

Culpa! Todos somos culpados!... Culpados pelos atos danosos cometidos contra nossa própria alma, muitas vezes culpados pela dor do outro, outras vezes por uma sociedade injusta e hipócrita, ou ainda pela atual situação do globo terrestre com todos os seus conflitos políticos e gemidos da natureza. Culpados sim, por atos e omissões, por palavras frívolas e pensamentos maus.

Somos culpados pela morte de Cristo, pois dentre muitas razões, Jesus morreu por causa de nossos pecados... Mel Gibson, dando entrevista sobre o seu filme "A Paixão de Cristo", afirmou que a mão que segurava o martelo que batera nos pregos que perfuram os pés e as mãos do nosso Senhor, era a sua. Disse não num sentido histórico, mas num sentido espiritual e, nesse sentido, todos nós "segurávamos" o martelo da dor e da morte que perpassou o corpo e a alma do nosso Salvador.

A morte de Cristo, não há dúvida, serviu para mostrar o tamanho da nossa culpa, maldade e miséria, afim de que houvesse, e haja, um despertar da consciência sobre o que essencialmente somos... Afim de que entendamos que ainda que não pratiquemos coisas que moral-mente são taxadas de pecado, ainda assim, em nós habita potencialmente o poder destruidor do pecado. De sorte que somos pecado, não apenas praticamos pecados – realidade defendida por Paulo, por exemplo, em Romanos 7. Desta maneira, a morte de Cristo, também vem gerar em nós o sentimento da verdade de que todos somos carentes da Graça do Senhor, pois é como está escrito: "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm.3:23).

A maior questão, no entanto, não é o fato de sermos culpados e, portanto, pecadores, mas o que a culpa acaba desenvolvendo dentro dos pecadores. E digo isto porque, apesar de sermos pecadores e culpados, Cristo nos ama e nos amou com paixão tal, a ponto de entregar-se a si mesmo até a morte e morte de cruz. Cristo assumiu a nossa culpa diante de Deus, tornando-se o Caminho para uma relação intima com o Pai. A cruz de Cristo não é, portanto, apenas a manifestação histórica da ira de Deus sobre o pecado, mas também revela o grande amor dEle pelos pecadores. Alguém já chegou a dizer que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Eu sou uma prova disso...

Quando leio que uma vez justificado por Cristo (pois justo essencialmente não sou) tenho paz para com Deus, isto sendo assimilado pela fé, torna-se consciência e vida. É pura Graça! É passar a viver a vida abundante que Cristo propôs para nós... Sem culpas e seus efeitos ciclicamente infernais e doentios.

Que efeitos danosos são estes?

Falo como um humilde seguidor de Cristo, que pela graça foi feito um seguidor de Cristo e que por esta razão tem sido naturalmente um observador dos seres humanos e da vida ao meu redor. Falo como ser humano, como gente que se vê como gente, que se apega a própria alma para se ver e, em se vendo, entenda eu mesmo o outro, o meu próximo. Afinal de contas todos fomos feitos do mesmo material e felizes são aqueles que como vasos de barro quebrados estão sendo reparados pelas mãos do Grande Oleiro... Deus sabe que somos barro.

Em 1° lugar, vejo que a culpa gera medo...

Percebo que a culpa, quando não vencida pela justificação que gera paz, desencadeia o medo. O medo de nunca livrar-se da culpa e de todos os seus fantasmas interiores.

Não é a toa que a religião dos homens (especialmente na sua forma institucional) é muitas vezes - e em vários lugares e épocas - uma expressão do medo. Medo que se expressa através dos tabus. Tabus são limites estabelecidos pelo moralismo humano que é essencialmente religioso – uma resposta negativa a vida diante de um "Deus" terrorista. O medo, portanto, é um tabu, uma parede de separação ao Deus da Graça.

Neste sentido o medo é uma des-graça, pois ela é a realidade de quem não se apropriou do amor gracioso de Deus, mas que carrega o tempo todo a insegurança agonizante de um futuro incerto (incluindo o futuro pós-túmulo), como também o assombro pelo inferno, pelos demônios, pelo juízo final, pela opinião moral alheia, a de não conseguir chegar lá, a de perder Deus de vista e etc.

O medo é uma camisa de força. O medo paralisa e no final das contas o medo acaba sendo um instrumento de controle de muitos lideres aproveitadores e megalomaníacos que só querem manipular e tirar vantagem de quem não encontrou pela fé na face de Deus o resplendor do Seu amor eterno por cada um de nós. João, apóstolo de Cristo, nos diz que o remédio para o medo é o amor. Ele diz que o amor lança fora todo o medo e isto porque sua consciência estava inundada da realidade de que a essência de Deus é amor; por ele mesmo ser alguém que experimentara este amor. Os olhos de João estavam em Jesus que por amor a humanidade não temeu o que lhe sobreviria... Nem as condições precárias, nem as perseguições e injustiças, nem o calor, a sede ou a fome, nem as tentações e o Diabo, nem a dor e nem a morte.

Sem amor, não há relacionamento verdadeiro e saudável com Deus e nem com ninguém. E isto, por sua vez, gera uma atitude, no mínimo equivocada...

Que atitude é esta?

O medo pode desencadear uma atitude de barganha...

A relação com Deus muitas vezes se torna numa verdadeira barganha por causa do medo. Quantas pessoas têm deixado de desfrutar de uma relação de amor com o Senhor e com a vida, por ter partido para uma relação mercantilista com Deus, falo em termos psicológicos e espirituais. No mundo da culpa sem fim a correria é por livrar-se de todos os objetos do medo e de suas ameaças ou pelo menos apaziguar os "monstros" que habitam o coração. Para isto, todo negócio "pode" ser feito...

Deus, consciente ou inconscientemente, acaba se tornando para os muitos adoecidos pelo medo apenas um meio de vencer as forças do mau, o inferno, a ira de um "Deus" sempre obstinado a nos castigar. Nasce daí a mecânica da religião e uma religião mecânica - um sistema psíquico-religioso de compensações interiores e exteriores por causa do medo desencadeado pela culpa.

Da mesma maneira como nas religiões primitivas usava-se dos sacrifícios para apaziguar a ira dos deuses caprichosos e iracundos, hoje muitos tem se sacrificado em nome de "Deus" a fim de encontrarem tranqüilidade, a fim de se sentirem vencedoras e protegidas. Daí as idas aos templos e outros lugares "sagrados"... Idas estas vazias de verdadeira experiência com o Sagrado, portanto sem consagração da vida no altar do amor de Cristo; daí as ofertas e ajudas dadas sem a liberdade no amor; daí o ativismo de muitos como uma maneira de esquivar-se de si mesmo e de uma reflexão que seja honesta, profunda e renovadora do caráter e das tendências da alma; daí a busca frenética por fazer vários prosélitos transformando pessoas em troféus ou números que podem ser objetos de troca com o Divino. Tudo feito como barganha... Tudo praticado como um jogo de trocas compensatórias... Tudo realizado em nome do sacrifício por "Deus".

Não entendem o que Deus disse: "obediência (amorosa) quero e não sacrifício". Não crêem no único sacrifício válido, que foi o de Cristo por nós, e no seu "está consumado!" na cruz do Calvário, por nós e em nós.

É uma pena, mas enquanto assim for muitos se afundarão ainda mais nas neoroses da alma e numa religiosidade perigosa para o espírito. Digo isto, pois os que se enveredam pelo caminho da barganha acabam assumindo aquilo que Paulo chamou de justiça própria.

Da barganha à justiça própria, o ciclo continua...

O ciclo da religião culposa e escravizante não só nos atola num mundo de medos e barganhas, mas insufla em nós um espírito anti-cristão, uma alma juridicamente perversa, um sentir moralista sobre tudo e todos, tornando-nos em gente que crer que por muito fazer se torna merecedor das dádivas Divinas. Trata-se de uma vaidade luciferiana diante de Deus e para Ele inaceitável. Trata-se de uma forma de auto-divinização, um colocar-se acima de si mesmo e de seus dramas... Na verdade, à medida que isto vai acontecendo, o que se perde é a humanidade e o que se ganha é um ser cada vez mais diabolizado. Cristo muitas vezes mostrou-nos este processo maléfico ao nos apontar com duras criticas os fariseus de seu tempo.

Paulo, apóstolo de Cristo, estava mais do que avisado deste mal. Homem que fora arrogante e extremamente religioso (judeu da seita dos fariseus), chegou a ser posto no chão (literalmente e subjetivamente) quando este estava sobre o cavalo e se dirigia a cidade de Damasco para prender alguns do Caminho (uma das formas como os cristãos foram denominados ainda na primeira metade do primeiro século – ver em Atos 9). Paulo ao se deparar com Cristo converte-se da religião humana para uma relação visceral de amor com Senhor, a ponto de dizer: "Não mais vivo eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que eu agora vivo na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, o qual me amou e a si mesmo se entregou por mim".

Para Paulo não há mais medos, mas certezas... Nem barganhas, mas gratidão... E toda justiça própria que carregara é substituída pela fé-dependência em Cristo, na justiça que procede de Deus.

Acho tremendamente profundo o que diz este grande servo de Cristo ao afirmar o seguinte:

"Se alguém pensa que tem razões para confiar e se orgulhar em si mesmo, eu tenho ainda mais: circuncidado ao oitavo dia como um verdadeiro filho de Abraão deve ser; pertencente ao povo escolhido por Deus – Israel -, sendo da tribo de Benjamim, portanto legítimo hebreu; quanto às práticas da lei, fui do melhor e mais fiel grupo religioso – a dos fariseus; sendo eu zeloso para com a minha fé, persegui a igreja; posso dizer que fui irrepreensível quanto à justiça que há na lei. Mas acabei vendo que tudo aquilo que para mim era vantagem, passei a considerar como nada, por uma razão simples: encontrei o meu tudo e este é Cristo a quem amo. Por causa da suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, joguei tudo para o ar, considerando-as desprazíveis para ganhar a Cristo e me encontrar Nele sem as vestes das minhas presunções, moralidades e legalismos, sem sentir-me essencialmente justo por qualquer coisa que eu faça ou deixe de fazer, sem carregar o sentimento de meritoriedade diante de Deus (tudo isto justiça própria), mas apenas crer em Cristo e na justiça que procede de Deus e que se baseia na fé. Meu caminho agora é conhecer a Cristo, este é o meu grande desejo, e o poder da sua ressurreição todos os dias em mim, como também a indentificação com seus seus sofrimentos de amor, tornando-me como Ele em Sua morte, para que da maneira dEle venha eu alcançar um dia a ressurreição dentre os mortos" (texto adaptado à minha linguagem, mas quem quiser que leia a carta aos Filipenses 3:4-11 e confira o espirito do texto).

Ele ainda diz no verso 15 que: "Todos nós que alcançamos a maturidade devemos ver as coisas desta forma..." e isto ele escreve em função do que é dito anteriormente, incluindo o verso 12, que diz: "Não que eu já tenha obtido tudo ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus".

Paulo está conectado com o que Jesus disse certa vez: "Sem mim nada podereis fazer", e ainda "Eu vos escolhi a vós e vos designei para que vades e deis frutos...". Isto posto, fica claro entender o porquê dele ter escrito o seguinte aos crentes de Éfeso: "Pela graça sois salvos mediante a fé; e isto não vem de vós é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie."

Isto para mim é libertador!

Só a Graça de Cristo me salva deste ciclo infernal de medo, barganha e justiça própria. Só a certeza do Amor Eterno de Deus me faz sentir livre da culpa essencial. Conquanto eu me sinta honestamente culpado circunstancialmente eu posso contar com a sua intercessão junto ao Pai. Isto é Graça! Não vem de nós, por mais que sinceramente empreendamos um esforço colossal por uma moralidade ilibada; por mais que tentemos refazer o caminho de Madre Tereza de Calcutá, ou de São Francisco de Assis, ou de Mahatma Gandhi, ou ainda do Reverendo Martin Luther King Jr.; ainda que ofereçamos o nosso próprio corpo para ser queimado ou tenha todo o conhecimento e toda a ciência. Nada nos libertará profundamente se não for a Graça em nós mediante a fé.

É na Graça que eu me vejo e é por meio da Graça que eu conheço a Deus como revelação amorosa em meu coração. Na Graça do Amor há certeza de perdão e a quebra da maldição de um ciclo infernal que só conspira para o meu mau. Na Graça sem fim, sei que nada e nem ninguém poderá me separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Enquanto as pessoas não olharem para Deus como Pai, a religião dos homens será o "Deus" dos incautos. E este em geral é escravizador de almas, pois que nunca dar a certeza do perdão. Pelo contrário, o "Deus" da religião dos homens leva-nos a confundir santidade com com legalismo e liberdade com libertinagem e nunca com verdade. Liberdade combina com verdade, pois a verdade liberta nas palavras do próprio Jesus. Sim! As palavras de Jesus é o eterno poder libertador naqueles que crêem que Ele É o Agnus Dei – o Cordeiro de Deus - que tira o pecado do mundo, e que por esta razão podemos viver verdadeiramente livres. Livres para amar e viver a verdade do perdão.

Sim! Ele é Aquele que com autoridade divina pode dizer: "Os teus pecados estão perdoados", afim de que dos fardos existenciais, psicológicos e espirituais os homens sejam aliviados e sintam no coração o bem transformador do reino de Deus que é sempre de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Sim! Apenas em Cristo é possível ter esta consciência, afim de que seja quebrado o ciclo infernal da culpa. Ciclo sim, pois todo o sofrer do homem começa nela e termina nela, depois de todas as viagens que um ser-humano, sem a nova consciência em Cristo, possa fazer.

Que no Cordeiro todos os homens encontrem paz.

Que assim seja no nome de Jesus!

No Senhor da Vida que veio para nos livrar da culpa e de todo ciclo infernal que gera morte, afim de que tenhamos VIDA,


Samuel Andrade



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